Psicóloga aponta fatores que levam aos vícios e dependências e a importância da prevenção
Os vícios e dependências estão presentes atualmente de várias formas na sociedade. Com a evolução das tecnologias, grandes aliadas em diversos setores e na vida das pessoas, também surgiram “vícios e dependências modernas”, como do celular ou outras telas. Mas, mesmo diante destes novos problemas, um problema bastante antigo continua representando uma grande demanda na saúde pública e ocupando muitos leitos em hospitais e unidades de saúde, que são relacionados ao álcool e drogas em geral.
Sobre este assunto, conversamos com a psicóloga Daniela Brugnerotto, com ampla experiência na área e que atua na ala psiquiátrica do hospital de Descanso. Aliado ao trabalho psicológico, a ala contempla uma equipe multiprofissional para atendimento a dependentes químicos, pacientes com doenças como depressão, ansiedade, transtornos mentais e de personalidade. Segundo a psicóloga, os principais fatores que contribuem para o vício e a dependência envolvem aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Cita que a predisposição genética, experiências traumáticas, transtornos mentais associados à vulnerabilidade social e a influência do ambiente social e familiar, também são alguns dos elementos que podem aumentar o risco.
Daniela lembra que é importante diferenciar vicio e dependência. “O vício é algo que a pessoa adquire, mas ainda consegue controlar. E a dependência vem depois do vício em que a pessoa não tem mais controle, não vive mais sem depender seja de álcool ou drogas, e já foi criada uma independência emocional da substância”.
Sobre motivos que levam uma pessoa a buscar e criar este vício ou dependência, Daniela exemplifica que muitos justificam a busca por mais prazer, outros pela curiosidade, ou para se sentirem pertencentes a um grupo onde outras pessoas já fazem uso. Há ainda aqueles que, para se adaptar a uma determinada situação que não conseguem lidar, seja por frustrações, tristeza ou ansiedade, fazem uso de substâncias como forma de relaxar ou “criar coragem” para alcançar um determinado objetivo. A psicóloga comenta que esta última é uma característica predominante em adolescentes, que na tentativa de relaxar ou se sentirem parte de um grupo começam a usar uma droga, sem saber que esta substância vai “abrir portas” para outras ainda piores. Afirma que se faz muito importante o diálogo dos pais/familiares com os filhos, para que estes entendam e saibam como lidar com as frustações da vida, e que não são as drogas que vão tornar isso mais fácil, bem ao contrário, vão trazer ainda mais dificuldades.
A psicóloga explica que quando a droga é ingerida atua no sistema nervoso central, e causa uma alteração da função cerebral, modificando a percepção, o humor e o comportamento do indivíduo. Isso ocorre em função do desequilíbrio do funcionamento de uma área do cérebro denominada de sistema de recompensa, ligado ao prazer e a parte mais primitiva da mente humana que se ativa em situações associadas ao prazer, como dormir, comer e usar determinadas substâncias. O vício, e depois a dependência, causam danos ao cérebro, prejudicando principalmente atividades de planejamento, tomada de decisão, juízo crítico e autopercepção. O uso de drogas também pode causar alucinações, que são alterações que acontecem no sistema nervoso.
O convívio social de quem usa drogas, comenta a psicóloga, deixa de ser saudável pela vergonha que a pessoa carrega consigo, ela perde o vínculo com a família e a credibilidade das pessoas. Com as mentiras e a manipulação do dependente, a profissional ressalta que quem estava por perto acaba desistindo porque já tentou de tudo. Cita que a manipulação é um dos principais pontos da dependência, pois o usuário faz de tudo para conseguir a droga, deixando de lado trabalho, filhos, família e amigos.
Quando se fala em tratamento para se libertar da dependência, uma das primeiras questões é o uso de medicação. Daniela esclarece que a técnica da desintoxicação é utilizada em internações nas instituições ou a domicílio, e tem como objetivo combater a dependência com uso de medicamentos chamados de fármacos. Essa medicação vai aliviar os sintomas de abstinência. Além dos fármacos, o tratamento contempla também as terapias e psicoterapias importantes para trabalhar três principais dificuldades da vida do usuário, que segundo a psicóloga, são: lidar com ele mesmo, ver o mundo ao seu redor e fazer planos para o futuro.
“Terapias integrativas também são muito importantes, como yoga, constelação familiar, acupuntura. Na psicologia trabalhamos muito as distorções cognitivas, que é a forma do paciente pensar a partir de eventos que ele teve na vida, como traumas que passou na infância e que podem ter acarretado muito sofrimento. Nessa parte do tratamento a gente sempre reforça que a família também precisa buscar ajuda dos profissionais para saber lidar”.
Daniela enfatiza que infelizmente houve um aumento significativo nos casos de vícios e dependências, e para atender esta demanda, os serviços públicos oferecidos para o tratamento também tem melhorado. Mas, como deve partir do usuário o interesse em se curar, a psicóloga aponta a necessidade de maiores investimentos na prevenção, conscientizando as pessoas sobre os malefícios do álcool e das drogas, com orientação direta aos adolescentes e famílias em geral.
