O setor bovinocultura de leite da Cooper A1, unidade de Mondaí, está desenvolvendo um estudo inovador sobre alternativas de pastagens de inverno, com resultados considerados altamente positivos para a produção leiteira e a melhoria do solo. A iniciativa é coordenada pelo técnico responsável Fernando Marcelo Coimbra e busca apresentar aos produtores alternativas mais eficientes e sustentáveis em comparação às tradicionais cultivares de aveia e azevém.
De acordo com Coimbra, a aveia e o azevém bastante utilizada nas propriedades da região, costuma oferecer poucos cortes se não manejada de forma correta observando a entrada e saída dos animais das pastagens, em condições ideais, as aveias podem chegar até 12% de proteína. E algumas cultivares de azevém melhorado podem alcançar 15%. No entanto, os experimentos realizados com outras espécies de gramíneas, como trigos de pastejo e azevéns híbridos importados da Argentina, estão mostrando resultados muito superiores, com até dez cortes e teores proteicos acima de 30%. “O objetivo é fazer com que o produtor entenda que existem outras opções de pastagem, com custo-benefício mais vantajoso. Além de fornecerem mais massa verde e proteína, essas forrageiras apresentam melhor digestibilidade e convertem maior produção de leite”, destacou o técnico.
Segundo o estudo, enquanto um hectare de aveia pode render cerca de 5 a 6 mil quilos de matéria verde — o que resulta em torno de 1,2 a 1,3 tonelada de matéria seca —, os novos pastos chegam a fornecer até o triplo desse volume. A diferença também é sentida diretamente na qualidade nutricional: menor teor de fibras, maior presença de proteína e energia e melhor aproveitamento pelos animais.
Outro ponto importante observado foi o enraizamento. Espécies como os azevéns Ceronte e Baqueano utilizados no estudo demonstram uma alta capacidade de enraizamento, sendo raízes profundas e agressivas, que contribuem para a descompactação e aumentam a infiltração de água no solo e enriquecem a microbiota do solo. “Essas plantas quando morrer suas raízes apodrecem e deixam galerias no perfil do solo por onde a água vai penetrar, aumentando a matéria orgânica e favorecendo a descompactação do solo com o passar dos anos, que posteriormente beneficiam culturas anuais, como milho e soja. É um efeito que vai muito além da pastagem, trazendo ganhos ao sistema produtivo como um todo”, explicou Coimbra.
Para viabilizar os experimentos, uma empresa parceiras da cooperativa forneceu corretivo de solo para deixar o pH em condições ideias, demonstrando na prática a importância de investir em correção e fertilidade de solo adequada para garantir o bom desenvolvimento das culturas. O trabalho vem sendo acompanhado desde maio, com áreas semeadas em diferentes períodos, e já registra até o sexto corte em algumas parcelas.
Mesmo diante do maior investimento inicial em sementes — com algumas variedades de azevém importadas custando em torno de R$ 600 o saco de 25 quilos — o retorno em produtividade e qualidade tem se mostrado compensador. “Quando se coloca o gado para pastejar nesses campos, logo se percebe a diferença no desempenho do rebanho e na produção de leite. É isso que queremos mostrar aos produtores”, reforçou o técnico.
A Cooper A1 pretende dar continuidade ao projeto, ampliando os campos demonstrativos e promovendo dias de campo para incentivar a participação dos agricultores. A proposta é quebrar a resistência inicial de parte dos produtores e mostrar que investir em novas opções de pastagens não significa apenas diversificar, mas também melhorar os resultados econômicos e ambientais das propriedades. “Nosso desafio é instigar o produtor a não olhar apenas para o preço da semente, mas sim para os benefícios que a pastagem de qualidade trará em longo prazo, tanto para o rebanho quanto para o solo”, concluiu Coimbra.

Conheça as pastagens de inverno do estudo
• Trigo Lenox, Energix 8020, Energix 203, Energix 204 e XFront no Pastejo de Bovinos Leiteiros
O trigo é tradicionalmente cultivado como cultura de grãos, mas, nos últimos anos, algumas cultivares vêm sendo utilizadas com sucesso em sistemas de pastejo de bovinos leiteiros, principalmente no Sul do Brasil. Nessas regiões, o trigo pode desempenhar papel estratégico como forrageira de inverno, complementando a oferta de pasto junto ao azevém e aveia, garantindo qualidade nutricional e maior estabilidade na produção de leite. Entre as cultivares que vêm sendo exploradas nesse sistema, destacam-se Lenox, Energix 8020, Energix 203, Energix 204 e XFront.
• Cultivar Lenox
Adaptação: bem estabelecida no Oeste de Santa Catarina e Paraná.
Manejo no pastejo: apresenta boa rebrota após cortes ou entrada de animais, com porte médio e folhas de alta palatabilidade.
Valor nutritivo: proteína bruta elevada e digestibilidade adequada para vacas em lactação.
Vantagem: estabilidade e facilidade de manejo, com rápida cobertura do solo.
• Cultivar Energix 8020
Adaptação: indicada para áreas de média a alta fertilidade.
Produtividade de forragem: alto volume de massa verde, com rebrote vigoroso.
Pastejo: suporta lotações mais intensivas em sistemas rotacionados.
Valor nutritivo: boa qualidade de fibra e proteína, favorecendo produção de leite.
Vantagem: ótima resposta em solos corrigidos e adubados.
• Cultivar Energix 203
Adaptação: rústica, adaptada a diferentes condições de solo e clima.
Produtividade de forragem: menor teto em comparação ao 8020, mas com grande estabilidade de produção.
Pastejo: tolera melhor variações climáticas, mantendo oferta de pasto constante.
Vantagem: ideal para propriedades que priorizam segurança de fornecimento de forragem, mesmo em anos chuvosos ou de frio irregular.
• Cultivar Energix 204
Adaptação: alto potencial em áreas férteis, bem manejadas.
Produtividade de forragem: elevada, com perfil foliar que favorece a colheita pelo animal.
Pastejo: excelente resposta em sistemas intensivos, podendo ser consorciado com azevém para alongar o período de utilização.
Valor nutritivo: folhas largas e tenras, de alta palatabilidade para vacas de alta produção.
• Cultivar XFront
Adaptação: versátil, com bom desempenho em diferentes condições.
Produtividade de forragem: boa produção de biomassa e rebrota consistente.
Pastejo: qualidade forrageira elevada, sendo opção estratégica para manter uniformidade de pastejo em sistemas rotativos.
Vantagem: alia boa produção de massa com valor nutricional adequado ao gado leiteiro.
Manejo Recomendado para Pastejo
Época de semeadura: março a abril, após milho silagem ou soja precoce.
Primeiro pastejo: quando as plantas atingirem 25 a 30 cm de altura, deixando resíduo de 10 a 12 cm.
Sistema de pastejo: preferencialmente rotacionado, com ocupações curtas (1–3 dias) e descansos de 20 a 30 dias.
Adubação: aplicação de nitrogênio em cobertura, parcelada após pastejos, garante maior rebrota e qualidade da forragem.
Consórcios: pode ser usado junto com azevém ou aveia para aumentar a longevidade do pasto.

