Mondaí – O milho é uma das principais culturas agrícolas da região, mas seu desenvolvimento saudável depende de uma série de manejos adequados, especialmente nos primeiros 60 dias após o plantio. De acordo com o técnico da Cooperativa A1, Fernando Marcelo Coimbra, a fase inicial da lavoura é a mais delicada e exige atenção constante para prevenir ataques de pragas, com destaque para o percevejo, considerado o inimigo número um do cereal nesse estágio.
Segundo Coimbra, logo após a germinação, é esperado que 75% a 80% das sementes plantadas estejam visíveis no campo, formando linhas bem definidas. Nesse momento, é fundamental que o produtor entre com a primeira aplicação de inseticida para proteger a lavoura. “O percevejo nessa fase é a praga que mais causa danos econômicos. Ele pode eliminar plantas inteiras, cortar colmos e provocar o chamado encarquilhamento, quando a planta fica deformada devido ao ataque do aparelho bucal do inseto, semelhante a duas agulhas que sugam a seiva”, explica.
O técnico destaca que o percevejo consegue atacar o milho até a planta atingir cerca de 60 a 70 dias, período em que o caule ainda é macio e vulnerável. Por isso, o ideal é que o controle seja feito já na fase conhecida como “palito”, entre cinco e sete dias após o plantio, quando a planta começa a despontar do solo. “Há produtores mais avançados que fazem uma aplicação preventiva ainda antes do plantio e outra no palito. Essa é a estratégia mais completa, mas, pelo menos, uma aplicação na fase inicial já garante grande proteção”, reforça.
Entre os inseticidas mais utilizados no manejo estão produtos como Curbix, Engeo Pleno e Expedition, considerados eficientes contra a praga. Outro ponto crucial no manejo do milho é a adubação nitrogenada. Coimbra orienta que, quando a planta atingir de duas a três folhas abertas, deve-se realizar a primeira aplicação de ureia, já que nesse momento ocorre a definição da espiga dentro do colmo. “De quatro a seis folhas a planta define quantas carreiras de grãos a espiga vai ter. Portanto, essa fase é determinante para a produtividade final”, ressalta.
O técnico lembra que o milho é uma planta bissexual, em que a espiga corresponde à flor feminina e o pendão à flor masculina. O sucesso da polinização, que ocorre entre o pólen do pendão e os óvulos da espiga, depende do bom desenvolvimento inicial da cultura. Após o estágio V8, o crescimento passa a ser essencialmente vegetativo, mas toda a base do potencial produtivo já foi definida até esse ponto. Enquanto lagartas e outros insetos desfolhadores apresentam sinais visíveis de ataque, os percevejos agem de forma mais discreta, o que torna seu controle desafiador. Conforme Fernando Coimbra, os danos muitas vezes só são notados quando o prejuízo já está instalado. “Quando o produtor percebe buraquinhos nas folhas desenroladas, o ataque já aconteceu. E, para localizar percevejos, o ideal é fazer a inspeção à noite, já que eles têm hábito noturno. Durante o dia, ficam escondidos em palhadas e restos culturais”, explica.

Na cultura do milho, duas variedades são as mais comuns: o percevejo-barriga-verde, de maior porte e com espinhos nos ombros da mesma cor do corpo, e o percevejo-marrom, menor e com espinhos de coloração mais escura. Ambos sugam a seiva da planta, injetando uma saliva com enzimas digestivas que comprometem seriamente o desenvolvimento. Além do ataque direto, essas pragas apresentam grande capacidade de dispersão. Elas sobrevivem em restos de culturas anteriores, ficam inativas por algum tempo e, quando encontram novos hospedeiros, retomam sua atividade, multiplicando-se rapidamente.
O técnico da Cooperativa A1 reforça que o monitoramento constante é indispensável. A inspeção deve ser feita principalmente na parte inferior das folhas e no interior das espigas, onde percevejos adultos e ninfas podem deixar secreções e manchas necróticas. Quanto ao controle químico, Coimbra indica inseticidas à base de piretróides e neonicotinoides, considerados os mais eficazes. Outras medidas importantes incluem o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos e a dessecação antecipada para eliminar hospedeiros alternativos, reduzindo a presença da praga antes do início do ciclo do milho. “Os próximos 15 dias são especialmente críticos, já que muitas lavouras estão na fase palito, momento em que a planta é mais frágil. Um manejo bem-feito nesse período pode representar toda a diferença no resultado da safra”, conclui o técnico.

